Olá, queridos leitores! Vamos conversar sobre uma estratégia de avaliação e melhoria que tem ganhado destaque em diversas áreas do mercado: o …
Por: Daniel Bertuzzi Vilela
CEO da Sanity Consultoria e Treinamentos
Se estivesse conosco nos dias de hoje Oswaldo Cruz provavelmente repetiria esta frase para médicos, médicas, profissionais da enfermagem, fisioterapeutas entre outros que trabalham socorrendo as vítimas desta Pandemia que nos assombra. E por que também não para os profissionais que trabalham na produção e distribuição de alimentos? Profissionais que não pararam e continuaram se expondo ao risco de contágio desde o início da pandemia. Cem anos depois de sua morte e de uma outra pandemia, muito parecida com a atual (que também assolou o mundo: a Gripe Espanhola), a história se repete: infecção, doença, morte, falta de informação e principalmente o medo. Mas não podemos esmorecer, temos que continuar trabalhando, entretanto, evitando o perigo.
“Sem esmorecer para não desmerecer”.
Oswaldo Cruz
A melhor forma de lidar com esse perigo é conhecê-lo bem, com base em fatos e dados científicos, para então poder calcular o risco que se corre trabalhando na indústria e varejo de alimentos. O risco é calculado com base na severidade (o mal que pode causar o perigo) em função da probabilidade (chance de o perigo ocorrer). Colocados em um gráfico cartesiano temos que quanto maior a probabilidade e maior a severidade maior será o risco. Não vamos discutir a severidade da doença, seja você jovem e saudável ou diabético com sobre peso, a severidade é alta. Ninguém quer e nem deve se infectar com o SARS-Cov-2. O que nos resta é trabalhar para reduzir a probabilidade.
A boa notícia é que o vírus não sobrevive por muito tempo no meio ambiente, pelo menos nas superfícies e locais que temos contato durante o trabalho. Em questão de horas ele desidrata e fica inativo. Sair na rua ou entrar em um mercado, ou qualquer outro local não vai te infectar, pelo menos não se você estiver sozinho. A principal via de contágio é a transmissão direta, de pessoa para pessoa. Isso significa que se um grupo de pessoas, de banho tomado e roupas limpas entrarem em um ambiente esterilizado, e ainda passando por um “túnel de desinfecção”, isso não garantirá segurança. O vírus está dentro do corpo, do pulmão. Basta uma pessoa infectada para espalhar o vírus por este “ambiente asséptico” e acabar com a festa.
Enquanto a pessoa infectada respira ou fala, seu pulmão libera no ar o gás carbônico junto com um material infeccioso em forma de gotículas ínfimas denominadas aerossóis que, dependendo do nível de infecção da pessoa, da intensidade da fala, da temperatura, da umidade, da saturação do ar dentre outros fatores que desconhecemos, eles podem permanecer suspensos por minutos ou horas e ainda assim infectantes. Por este motivo tanto se fala no tal de “Lockdown” em que as pessoas ficam isoladas (trancadas) em suas casas. Essa seria a maneira de garantir 100% a proteção contra o vírus: isolar-se fisicamente de todas as pessoas. Mas isso não é possível, pelo menos não para os profissionais que trabalham na cadeia de alimentos. Temos que estar na linha de frente, verificando, inspecionando, treinando e garantindo as melhores práticas para a sanidade dos alimentos.
Não é preciso ser um gênio para concluir que em uma festa, com som alto, pessoas aglomeradas, bebendo e falando alto ou em um ambiente fechado, como uma igreja por exemplo, com pessoas cantando por horas a fio, é o cenário ideal para a transmissão do vírus e quase impossível de se proteger. Mas como este não é o caso do nosso ambiente de trabalho, existem cuidados que podem minimizar muito a probabilidade de contágio.
Manter as mãos limpas, uso do álcool gel e evitar tocar os olhos boca e nariz é importante, mas vamos nos ater à principal via de contágio: o ar. O ar que aspiramos e expiramos o tempo todo e que carrega mais coisa além de nitrogênio e oxigênio. O aerossol que contém basicamente água na forma liquida (gotas) ou gasosa que carregam o vírus, dependendo da situação podem formar “nuvens de vírus” e durar mais tempo e alcançar maiores distâncias em ambientes fechados, chegando a fazer parte da composição deste ar.
Numa investigação1 realizada na Nova Zelândia pesquisadores suspeitaram que um viajante de quarentena em um hotel transmitiu o SARS-Cov-2 para outra viajante que estava também de quarentena em um quarto do mesmo andar. Eles desconfiam que ao abrir a porta e retirar a máscara para fazer um teste de Covid-19, este viajante contaminado pelo vírus, expirou um aerossol no corredor do hotel. Em seguida a outra viajante abriu a porta e retirou a máscara para o mesmo procedimento e neste momento, por conta das pressões positivas e negativas entre quarto e corredor esta “nuvem de vírus” espirada pelo viajante contaminado, se deslocou pelo corredor e foi aspirada pela viajante saudável. É interessante notar que a enfermeira não foi infectada, muito provavelmente porque em nenhum momento retirou a máscara. Nesse caso a máscara foi o único fator de proteção.
Em um estudo2 realizado pela Universidade de Hong Kong e publicado na revista Clinical Infectious Diseases da Oxford Academic, eles utilizaram hamsters portadores do vírus SARS-Cov-2 e hamsters sem o vírus em duas gaiolas diferentes em várias situações, com e sem uma separação por tecido de máscara cirúrgica e com diferentes fluxos de ar. Após vários experimentos eles concluíram que o uso da máscara cirúrgica pode reduzir pela metade a probabilidade de contagio, e se o infectado estiver utilizando máscara esse risco cai de 67% para 17%. Esse estudo foi realizado há um ano atrás, de lá para cá muitos outros vêm corroborando a tese.
A máscara nada mais é que um anteparo ou uma barreira que dificulta o vírus, que está no ar, entre pela boca ou nariz do indivíduo infectando seu pulmão. Além disso o individuo infectado que utiliza a máscara não forma aerossóis pois este fica retido na máscara. E para que a máscara se torne uma barreira eficaz e impedir que um aerossol ou uma nuvem de umidade contendo o vírus ultrapasse essa barreira ela deve vedar completamente o nariz e a boca, estar seca e possuir uma trama de tecido mais densa possível, que permita você respirar, mas ao mesmo tempo retenha as partículas contaminadas.
As máscaras tipo PFF (Peça Facial Filtrante com níveis 1, 2 e 3) ou a norte americana N95 (Not oil resistence que filtra pelo menos 95% das partículas no ar) são ótimas opções para ambientes fechados, onde não há dispersão do ar e você pode se deparar com “nuvens de vírus” suspensas, deixadas por pessoas infectadas que podem nem estar mais presentes. Em locais abertos e sem aglomeração máscaras caseiras de algodão, nylon, TNT etc. devem ser suficientes, mas em ambientes fechados ou na presença de um grupo de pessoas devemos ser mais cautelosos.
Pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, após testaram3 a eficiência de filtração de vários tipos de máscaras, chegaram a algumas conclusões interessantes. A vedação das máscaras é fundamental para sua eficiência, ela deve estar rente ao seu rosto em toda a borda. Aquela ponte metálica (comumente presente nas máscaras cirúrgicas) que ajusta a máscara ao formato do nariz pode fazer uma grande diferença, além disso o uso de elásticos passando por trás da cabeça também ajudam na aderência da máscara ao rosto melhorando sua eficiência. O uso de 2 máscaras (cirúrgica por baixo e de tecido por cima) tem sido recomendada por inúmeros pesquisadores, o que faz muito sentido pois a máscara cirúrgica tem a função de vedar seu rosto e a de tecido pode absorver a umidade dos aerossóis e desidratar o vírus. Aviso para os homens: a barba atrapalha, muito.
Fica claro que sendo um vírus de transmissão direta e aérea, que afeta o trato respiratório, a proteção (da boca e nariz) com máscara e o distanciamento entre as pessoas é a medida mais eficaz, se não a única medida que podemos considerar para se proteger, pelo menos até todos sermos vacinados. Além disso, mesmo com distanciamento e utilizando uma boa máscara, permanecer em ambientes fechados, sem ventilação, com outras pessoas e por muito tempo é um risco grande pois podemos proporcionar uma situação de alta carga viral no ar e tempo suficiente para eles ultrapassarem as barreiras e chegarem até você. Mas não tema! Se você observar os cuidados com o uso da máscara, a ventilação dos ambientes fechados e o distanciamento social é bem provável que você não entre em contato com o vírus e, se entrar, a carga viral poderá ser muito pequena a ponto de não causar adoecimento pela Covid-19. Então continue firme na sua missão de garantir o alimento saudável para as pessoas, sem esmorecer para não desmerecer.
2 https://academic.oup.com/cid/article/71/16/2139/5848814#
3 https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32780113/ | https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33300948/
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