Transtorno do Espectro Autista (TEA): características, tipos e níveis

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O transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.

Dados estatísticos publicados pelo CDC (Central of Disease Control) mostram que em um período de 6 anos, entre 2014 e 2020, houve um crescimento de 9% de crianças diagnosticadas com TEA. E mesmo com esse aumento acelerado de incidência, o Brasil é um dos Países que menos exerce o diagnóstico precoce.

A nossa cultura é diferente de outros países, como por exemplo nos EUA, que no acompanhamento médico dos bebês, é incluso instrumentos de rastreamento para identificar se o bebê tem ou não TEA.

Infelizmente, no Brasil, poucos profissionais fazem isso, o que dificulta ainda mais na identificação precoce.

A intervenção precoce (dos 06 meses à 1 ano e meio) é de extrema importância, pois nesse período do desenvolvimento, o cérebro é altamente plástico e maleável, viabiliza mudanças significativas na trajetória de desenvolvimento dos pequenos.

A escala de observação de autismo em bebês (AOSI – Autism Observational Scale for infants), prevê 22 “Sinais de risco de autismo” para auxiliar na observação. Aqui, separamos os 08 mais comuns.

  • Acompanhamento visual: espera-se que o bebê tenha a habilidade de acompanhar com o olhar um objeto em movimento.
  • Resposta ao nome: Capacidade de fazer contato visual com a pessoa que chamar o seu nome. Com 1 ano, já olhe frequentemente quando chamado pelo nome.
  • Resposta em relação à mudança de expressão facial: Espera-se que a criança reconheça a expressão facial do adulto, por exemplo de uma expressão séria, para uma sorridente.
  • Imitação simples: Aos 11 meses espera-se que, tenham capacidade de reproduzir de 60 a 70% expressões e/ou gestos que um adulto reproduz (por exemplo, mostrar a língua, levantar as sobrancelhas). E aos 10 a 12 meses, que reproduzam uma ação com um objeto, como bater na mesa, chutar a bola.
  • Contato visual: Espera-se que a criança olhe para o adulto e mantenha o olhar, sem desviar com frequência.
  • Brincadeiras sociais: É esperado que a criança tenha interesse na interação social, por exemplo, a brincadeira de esconder o rosto. Espera-se que a criança tenha a capacidade de comunicar o desejo de manter a brincadeira (sorrindo, se movimentando, balbuciando).
  • Transições: Espera-se que a criança seja capaz de encerrar uma atividade e iniciar outra, ou explorar outros brinquedos. Não é comum, crianças pequenas serem fixadas em apenas uma brincadeira ou objeto.
  • Movimentos motores atípicos: Presença de comportamentos de forma atípica como marcha, posturas/maneirismos motores ou comportamentos motores repetitivos, por exemplo, quando a criança movimenta as mãos perto do corpo, olhar para a mão fazendo movimentos repetitivos, abrir os dedos da mão, e outros movimentos que não se observa em outras crianças da mesma idade e aparecem com frequência.
  • O TEA possui algumas características para aqueles que o possui, como por exemplo:
    • Angústia com mudanças, seja um novo alimento ou alteração na rotina;
    • Hipersensibilidade ao toque, com dificuldade em ser abraçado e encostado;
    • Hipersensibilidade a estímulos visuais e auditivos;
    • Dificuldade para entender e demonstrar sentimentos;
    • Seletividade alimentar.

O diagnóstico é essencialmente clínico e deve ser realizado por um psiquiatra através da avaliação do comportamento do paciente, entrevista com os pais e/ou cuidadores e sendo possível realizar a Triagem MCHAT-R (Modifield Checklist for Autism in Toddlers), o objetivo do teste é identificar os sinais precoces de autismo. Sendo utilizado como triagem para o diagnóstico.

Existem 4 tipos distúrbios dentro do TEA.

O primeiro é a Síndrome de Asperger, é considerada a forma mais leve e é três vezes mais comum em meninos do que em meninas.

Normalmente, quem possui a síndrome conta com uma inteligência bastante superior à média e pode ser chamado também de “autismo de alto funcionamento”.

Também é normal que esse autista se torne extremamente obsessivo por um objeto ou um único assunto – e passe horas discutindo ou falando sobre o assunto.

Se a Síndrome não for diagnosticada na infância, o adulto com Asperger poderá ter mais chances de desenvolver quadros depressivos e de ansiedade.

O segundo é o Transtorno Invasivo do Desenvolvimento
Essa é uma “fase intermediária”, já que ela é um pouco mais grave que a Síndrome de Asperger, mas não tão forte quanto o Transtorno Autista.

Nesse caso, os sintomas são muito variáveis. Porém, de uma maneira geral o paciente apresentará, dificuldades com a interação social, competência linguística inferior à Síndrome de Asperger, mas superior ao Transtorno Autista.

O terceiro é o Transtorno Autista
São aqueles que apresentam sintomas mais graves que os dois outros tipos. Neste caso, várias capacidades são afetadas de forma mais intensa, como os relacionamentos sociais, a cognição e a linguística. Outro fator bem comum é a presença intensificada dos comportamentos repetitivos.

Esse é o tipo “clássico” de autismo e que costuma ser diagnosticado de forma precoce, em geral antes dos 3 anos.

O quarto e último tipo é o Transtorno Desintegrativo da Infância
É considerado o tipo mais grave do espectro autista e o menos comum. Em geral, a criança apresenta um período normal de desenvolvimento, porém a partir dos 2 aos 4 anos de idade, ela passa a perder as habilidades intelectuais, linguísticas e sociais sem conseguir recuperá-las.

Além dos tipos de distúrbios do espectro, nós temos os níveis deles, que são definidos em 3:

Nível 1 (Leve)
Apresentam dificuldades para iniciar a relação social com outras pessoas e podem ter pouco interesse em interagir com os demais, apresentando respostas atípicas ou insucesso a aberturas sociais. Em geral, apresentam dificuldades para trocar de atividades e problemas de planejamento e organização.

Nível 2 (Médio)
Podem apresentar um nível um pouco mais grave de deficiência nas relações sociais e na comunicação verbal e não verbal. Têm limitações em iniciar interações sociais e prejuízos sociais aparentes mesmo com a presença de apoio.

Além disso, são mais inflexíveis nos seus comportamentos, apresentam dificuldades com a mudança ou com os comportamentos repetitivos e sofrem para modificar o foco das suas ações.

Nível 3 (Grave)
Nesse nível, existem déficits bem mais graves em relação a comunicação verbal e não verbal, além de dificuldades notórias para iniciar uma interação social, com graves prejuízos de funcionamento.

Também apresentam dificuldade extrema em lidar com a mudança e com comportamentos repetitivos – o que interfere de forma mais acentuada no seu funcionamento. Ainda contam com grande sofrimento para mudar o foco das suas ações.

Por mais que o transtorno do espectro autista ainda que não exista cura, o transtorno do espectro autista tem sim tratamento, capaz de melhorar a qualidade de vida do paciente.

Em geral, uma equipe multidisciplinar é indicada, já que cada especialista trabalhará uma dificuldade específica.

Costuma-se indicar acompanhamentos com:

  • Fonoaudiólogo que acompanhará no desenvolvimento da linguagem não-verbal e verbal;
  • Psicólogo que trabalhará com técnicas como ludoterapia, ou seja, por meio de jogos e brinquedos para melhorar a interação social e o contato visual da criança;
  • Grupos de habilidades sociais para praticar as interações sociais do dia a dia e melhorar o comportamento social;
  • Psiquiatras para que possam ser indicados medicamentos que, embora não tratem o transtorno em si, ajudam com possíveis problemas emocionais comuns no espectro como ansiedade, hiperatividade, ataques de raiva, impulsividade, agressividade e alterações de humor.

As consequências do TEA, devido as suas características e sintomas afetam outros aspectos fisiológicos, como por exemplo a saúde bucal.

Principalmente pela hipersensibilidade ao toque e aos estímulos visuais e auditivos, o paciente com o transtorno tem maiores dificuldades com a higienização bucal o que pode ocasionar graves consequências para a saúde da boca.  Além disso, em uma consulta com o dentista o manejo bucal do paciente é mais desafiador e é preciso muita paciência e técnica para que atendimento seja realizado de forma mais confortável possível para o paciente.

Outra característica importante, é a seletividade alimentar. O intestino de pessoas dentro do Espectro, por si só, já tem suas células mais sensíveis, sendo presente quadros de disbiose(aumento na quantidade bactérias patogênicas), inflamações intestinais, intolerâncias alimentares e alergias reativas e tardias. Além disso, o perfil sensorial de crianças atípicas influencia muito na escolha dos alimentos.

A criança pode ter objeção por alimentos de diferentes cores além das cores de sua preferência, por exemplo, aceitar alimentos brancos e amarelos e negar alimentos verdes ou vermelhos etc.

A criança pode apresentar caretas e repulsa, até mesmo náuseas, com o odor de alimentos que estão sendo apresentados para ela ou até que esteja no mesmo ambiente. A criança pode recusar uma textura que ela conheça por parte tátil e mesmo assim não goste dentro da boca.

Todas essas questões sensoriais podem afetar a alimentação de uma criança diagnosticada com TEA.

Assim como todos os demais sintomas e características, o tratamento de seletividade alimentar deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar, principalmente por abordar a seletividade de diversos ângulos ao mesmo tempo e respeitando o tempo da criança, sem forçar e com total empatia e embasamento.

Ainda, pouco se sabe sobre a causa do TEA. As últimas pesquisas cientificas realizadas mostram que 100 genes estão ligados ao desenvolvimento do TEA. Além disso, especialistas têm estudado fatores ambientais durante a gestação como possível causa também. Quanto maior o número de estudos sobre esse assunto, maiores as possibilidades de entender a fundo os mecanismos ocasionadores do TEA, e com isso ajustar os tratamentos para que sejam cada vez mais eficazes.

Indivíduos autistas invariavelmente têm dificuldades de envolvimento social e de aquisição de habilidades de comunicação. No entanto, a forma pela qual essas dificuldades se manifestam variam muito de pessoa para pessoa. Muitos indivíduos autistas não desenvolvem habilidades de linguagem e apresentam deficiências na comunicação não verbal. Aqueles que conseguem adquirir a linguagem têm problemas de comunicação, porque a comunicação eficaz requer a capacidade de assumir a perspectiva dos outros, um dos principais deficits do autismo.

Com isso, as pessoas diagnosticadas com TEA acabam tendo muitos impactos sociais durante sua vida.

Dependendo do tipo, nível e forma de interação com o outro, essas pessoas acabam sendo mais facilmente exclusas pela sociedade, mais frequentemente julgados por suas reações em público, sendo rotulado muitas vezes como incapazes de realizar tarefas e criarem vínculos. Por isso o diagnostico precoce, o suporte familiar e todo o envolvimento multidisciplinar entre psicólogos, fonoaudiólogos, psiquiatras, nutricionistas e demais profissionais, são essenciais para melhorar a qualidade de vida do paciente.

Como falamos no início do texto, existem alguns tipos e níveis de diagnostico para o TEA, e nem todos eles são impedimentos para uma vida saudável e de sucesso. Por isso separamos alguns famosos que foram diagnosticados com TEA ao longo da sua vida:

  • Courtney Love
    Love é vocalista do grupo de rock Hole e ficou conhecida por ser a viúva do cantor Kurt Cobain, do Nirvana
  • James Durbin
    James Durbin é um cantor finalista do conhecido programa de artistas “American Idol”.
  • Serena de Jesus
    Serena de Jesus é uma artista marcial famosa diagnosticada. Ela iniciou sua carreira esportiva vencendo na estréia profissional do MMA, competindo pela Fusion Fight League. De Jesus é conhecida como a primeira lutadora profissional de MMA com autismo.
  • Daryl Hannah
    A atriz Daryl Hannah, que teve grande destaque em filmes como “Blade Runner” e “Kill Bill”.
  • Dan Aykroyd
    Aykroyd é um dos roteiristas e protagonistas da famosa série “Os Caça-fantasmas”. Ele foi diagnosticado com a Síndrome de Tourette ainda aos 12 anos e com a de Asperger aos 80.
  • Heather Kuzmich
    Heather Kuzmich é uma das 13 jovens selecionadas pela modelo Tyra Banks para competir no reality show “America´s Next Top Model”.
  • Elon Musk
    Presidente da SpaceX e da Tesla, revelou, em 2021, ter Síndrome de Asperger.
  • Dan Harmon
    Criador de Rick and Morty, Dan Harmon, foi diagnosticado com Síndrome de Asperger aos 38 anos.

É importante lembrar que cada pessoa com TEA tem uma forma de apresentação do distúrbio, mas separamos 7 comportamentos para se atentar na interação com alguém que possua o transtorno.

1 – Tenha cuidado com toques e palavras;
2 – Aja com delicadeza;
3 – Estimule a interação com outros adultos e crianças;
4 – Ajude-o a criar formas de comunicação;
5 – Imponha limites;
6 – Seja criativo;
7 – Deixe-os em contato com animais.

Profissionais consultados:

 Fonoaudióloga Dra Lara Warwick – CRFa 2 – 11778

Psicóloga Larissa Souza – CRP 06/171742

Dentista Dra Bianca Oliveira – CROSP – 150046

Nutricionista Beatriz Augusto de Castro – CRN-3 – 62434

 

Referencias:

https://www.vittude.com/

https://autismoerealidade.org.br/

https://www.grupoconduzir.com.br/

https://saudelifecare.com.br/

https://www.canalautismo.com.br/

https://super.abril.com.br/

https://blog.psicologiaviva.com.br/

https://www.ama.org.br/

https://institutopensi.org.br/

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