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No surto de cólera ocorrido em 1854 em Londres o médico londrino John Snow fez uma descoberta que salvaria milhares de vidas. – que a doença não era transmitida pelo “ar ruim”, mas por água infestada de germes.
No surto de cólera da Broad Street em 1854 em Londres, John Snow fez seu nome como um dos fundadores da epidemiologia moderna. Anteriormente, pensava-se que a cólera era causada por partículas chamadas “miasmas” que emanavam de matéria em decomposição e outras fontes impuras. John Snow, no entanto, era cético em relação a essa teoria. Em vez disso, ele acreditou na teoria dos germes da cólera: que era causada por um germe não identificado, que John Snow teorizou ter sido transmitido pela água potável.
John Snow investigou essa teoria e o surto, concentrando-se nas fontes de água dos residentes de Londres e nas taxas de cólera nas áreas por eles atendidas. Ele descobriu, mais notavelmente, “que a água das empresas do Surrey Side de Londres … é de longe a pior de todas aquelas que usam o Tâmisa como suprimento”. Outras empresas tinham suprimentos de água mais limpos – não apenas obtinham fontes melhores, mas também filtravam melhor a água que retiravam.
As peculiaridades do abastecimento de água naquela época também permitiram que John Snow conduzisse, sem saber, um experimento duplo-cego quase perfeito:
Em muitos casos, uma única casa tem um suprimento diferente daquele de cada lado. Cada empresa abastece ricos e pobres, casas grandes e pequenas; não há diferença na condição ou ocupação das pessoas que recebem água das diferentes empresas … Como não há nenhuma diferença nem nas casas nem nas pessoas que recebem o abastecimento das duas empresas de água, ou em qualquer das nas condições em que estão rodeados, é óbvio que nenhum experimento poderia ter sido planejado para testar mais profundamente o efeito do suprimento de água sobre o progresso do cólera do que este, cujas circunstâncias foram colocadas prontas diante do observador.
O experimento também foi em grande escala. Nada menos que trezentas mil pessoas de ambos os sexos, de todas as idades e ocupações, e de todas as classes e posições, desde os nobres até os muito pobres, foram divididas em dois grupos sem sua escolha e, na maioria dos casos, sem seu conhecimento; um grupo recebendo água contendo o esgoto de Londres e, entre eles, o que quer que fosse proveniente de pacientes com cólera, o outro grupo tendo água totalmente isenta dessa impureza.
Isso levou John Snow a estudar a pureza da água em amostras retiradas de cada fonte domiciliar. Em última análise, ele atribuiu o surto de cólera a fontes de água impuras. Essa descoberta foi confirmada quando ele fez com que as prisões mudassem suas fontes de água: poucos dias depois de adquirir uma fonte melhor, a taxa de novos casos de cólera diminuiu substancialmente.
Os métodos de Snow no surto de cólera da Broad Street estabeleceram as bases para o que se tornaria a epidemiologia moderna. Ele também foi influente na ampla adoção da anestesia, bem como em várias melhorias nos sistemas públicos de esgoto e água. Sem sombra de dúvidas, John Snow teve um efeito inegavelmente impressionante na saúde global e sua influência pode ser vista em todo o mundo moderno.
O cólera é uma doença bacteriana infecciosa intestinal aguda, transmitida por contaminação fecal-oral direta ou pela ingestão de água ou alimentos contaminados. Frequentemente, a infecção é assintomática ou causa diarreia leve. Pode também se apresentar de forma grave, com diarreia aquosa e profusa, com ou sem vômitos, dor abdominal e cãibras. Quando não tratada prontamente, pode ocorrer desidratação intensa, levando a graves complicações e até mesmo ao óbito. A doença está ligada diretamente ao saneamento básico e à higiene.
O período de incubação da bactéria, tempo que leva para provocar os primeiros sintomas no organismo, varia de algumas horas a 5 dias da infecção. Na maioria dos casos, esse período é de 2 a 3 dias.
O período de transmissibilidade perdura enquanto a pessoa estiver eliminando a bactéria nas fezes, o que ocorre, na maioria dos casos, até poucos dias após a cura. Para fins de vigilância, o período aceito como padrão é de 20 dias.
Quando não tratada prontamente e da forma correta, a cólera pode evoluir para quadros mais graves e provocar complicações, como desidratação intensa, levando, inclusive, à morte.
A transmissão da cólera ocorre por via fecal-oral, ou seja, pela ingestão de água ou alimentos contaminados, ou pela contaminação pessoa a pessoa. Os alimentos, de forma geral, podem ser contaminados durante a cadeia produtiva e durante sua manipulação. Além disso, como o agente causador da cólera faz parte do ambiente aquático, pode se associar a mariscos (crustáceos e moluscos), peixes e algas, entre outros, possibilitando a transmissão da cólera se esses alimentos forem consumidos crus ou mal cozidos.
A cólera é causada pela ação da toxina liberada por dois sorogrupos específicos da bactéria Vibrio cholerae (sorogrupos O1 e O139). A toxina se liga às paredes intestinais, alterando o fluxo normal de sódio e cloreto do organismo. Essa alteração faz com que o corpo secrete grandes quantidades de água, o que provoca diarreia aquosa, desidratação e perda de fluidos e sais minerais importantes para o corpo.
Fonte: Ministério da Saúde
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